Instituto Piano Brasileiro descobre gravações caseiras inéditas de Baden Powell em sarau
Deu meia noite e vinte e cinco quando meu amigo Alexandre Dias enviou a mensagem. Descobrira cinco gravações inéditas de Baden Powell em fita de rolo durante sarau na casa da pianista Neusa França, em 1959. Eu, que estava pronto pra dormir, perdi o sono ouvindo a introdução de Serenata do Adeus (Vinícius de Moraes). Baden aos 23 anos, antes mesmo de gravar o primeiro LP, já tocava aquela linda valsa, só lançada comercialmente, salvo engano, em 1971, no disco Estudos. Fico imaginando quem bate as palmas. O gravador, avisa Alexandre, ficou aos cuidados de Oswaldo França, marido de Neusa. A voz dela gritando “bravo!” também está registrada. OUÇA
Na sequência, Baden toca Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso), numa interpretação bem melhor do que a que gravou no disco de estreia, Apresentando Baden Powell e seu Violão, de 1960. Explico: apesar da precariedade das fitas de rolo domésticas, aquele violão in natura, ora meio nervoso em escalas rápidas, ora no rubato característico do gênio Baden, está livre do esquema do primeiro LP, que é um bom disco, mas ainda verde esteticamente, meio muzak, de repertório marcado por standards de jazz e boleros que habitavam os bares noturnos da época.
A terceira da fita é a pouco lembrada valsa Insônia, um bonito tema lançado dois anos depois, em 1961, no LP Um Violão na Madrugada. Uma maravilha. A gravação mais misteriosa, no entanto, é a quarta. Começa com um baixo pedal em lá. Bem familiar. Mas até agora não descobrimos que música é essa. Vamos desvendar? Convido os internautas para entrar nessa pesquisa.
Agustin Barrios
Encerrando a sessão, Baden Powell faz a sua versão da Valsa Op 8 no 4, do Agustin Barrios. Que se saiba, nunca ele havia gravado o compositor paraguaio em disco. Mas por ter sido aluno do pernambucano Jaime Florence, o Meira, que por sua vez conviveu com João Pernambuco, Quincas Laranjeiras e o próprio Barrios, em suas longas temporadas pelo Brasil, nada mais natural para o Baden tocar esta valsa. Outro grande aluno de Meira, o Raphael Rabello também interpretava Agustin Barrios, gravando até em disco, e sendo responsável por ter inserido o Estudo de Concerto em rodas de choro.
Mas as investigações de Alexandre prosseguem. “Além de tentar descobrir qual é a música não identificada, queremos saber se a residência onde ocorreu o sarau foi no Rio de Janeiro. Justamente em outubro 1959, Neusa se mudou com a família para Brasília”.
Eis a minha primeira impressão ao ouvir essas raras gravações descobertas por Alexandre Dias, que além de baita pianista, é biólogo, pesquisador e diretor do Instituto Piano Brasileiro, num trabalho fantástico de contar a história da nossa música, recuperar partituras perdidas e resgatar fotos e gravações raras. Meu agradecimento ao Alexandre, por ter mostrado o material em primeira mão, e aos filhos da Neusa França, Magda França, Denise Bandeira e Leonardo França, que gentilmente autorizaram a divulgação deste material pelo Instituto Piano Brasileiro. O violão brasileiro também agradece. E muito.
Alexandre Dias