(Jorge Bonfá - crédito: Roberto Panucci)

Por Jorge Bonfá

(Especial para o Acervo Violão Brasileiro)

Desde criança eu presenciava encontros de chorões e sambistas na casa de minha avó paterna Letícia, no Largo do Pechincha, em Jacarepaguá (Rio de Janeiro). Meu avô Francisco e seus irmãos tocavam violão e meu tio avô Salviano foi um excelente violonista. Quem apresentou Deo Rian ao Jacob foi ele. Revelo tais lembranças agora para o Acervo Violão Brasileiro, que lança nesta quarta-feira (08/04) a partitura de Choro nº3, de minha autoria, que é uma das peças vencedoras do maravilhoso Concurso Novas 3, dirigido por Elodie Bouny, que também forma o júri, ao lado de Fábio Zanon, Marco Pereira e Sérgio Assad.

O Choro nº3 homenageia o maestro Radamés Gnattali e integra uma série de peças de choros que escrevi para violão no intuito de retratar, através de uma suíte, ritmos de danças brasileiras e estilos de compositores que compuseram para o violão brasileiro.

Em especial, minha intenção era de compor uma peça com harmonia e forma não tradicionais do choro, sem perder a essência brasileira do gênero e destacando o estilo de composição de Radamés, ou seja, com uma melodia cantante com mudanças de registros, convenções rítmicas e idiomática ao violão.

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Trajetória

De fato, a música então sempre esteve presente na minha vida. Aos 12 anos, ganhei meu primeiro violão e os constantes encontros com meu tio avô Jarbas, também violonista, ficaram registrados em minha memória afetiva, pela forma como ele tocava no violão de 6 cordas com bordões característicos do violão de 7.

Filho de mineira e carioca, mudei-me para Belo Horizonte com minha mãe e irmã em 1992. Os sons de Minas representaram descobertas de incríveis possibilidades que me fizeram perceber ainda mais a riqueza da diversidade musical popular brasileira. Calangos, cururus, vissungos, jongos, congado e a música do Clube da Esquina com suas composições e harmonias contagiantes.

(Jorge Bonfá - crédito: Roberto Panucci)

Festivais

A prática de compor passa a fazer parte do meu cotidiano em 1995 com a peça Cangaço, inspirada na história de Lampião e Maria Bonita, com uma carga de dramaticidade causadas pelas tensões dos acordes em contraponto com uma melodia melancólica. A relação entre imagem e música está bastante presente no meu processo de criação. A partir daí, participei de vários festivais de música instrumental com a intenção de mostrar meu trabalho como compositor e violonista.

Minha peça Uma Valsa na Noite foi premiada no festival de Choro de Belém do Pará, em 2007, enquanto Dois Irmãos e Momento n.º 2 saíram vencedoras em 2008 no Festival Nacional de música instrumental de Guarulhos e na VIII edição do Prêmio BDMG Instrumental, em Belo Horizonte, onde fui um dos vencedores com a indicação de melhor instrumentista e melhor arranjo. 

Em 2009 gravei o primeiro CD autoral que foi pré-indicado para o Prêmio da Música Brasileira em 2011. Esse trabalho foi divulgado na França e Itália com excelente repercussão. São composições autorais com uma sonoridade brasileira do choro, que apesar da instrumentação presente no trabalho, destaca bem a linguagem do violão. Mas tudo isso remonta a minha infância na casa da minha avó Letícia.

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