Por Gilson Antunes
Considerado um dos principais compositores brasileiros do século 20, compôs importantes obras para violão, as quais infelizmente ainda não receberam a devida atenção por parte dos violonistas. Algumas delas têm, inclusive, grande valor histórico, pois foram as primeiras do Brasil no gênero, como a Suíte para Violão, 1946, na qual utiliza elementos seriais, e Sonata, escrita em 1969.
Filho de imigrantes portugueses, Guerra-Peixe nasceu em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 18 de março de 1914. Iniciou seus estudos musicais de violão com o pai, aos seis anos. Antes de completar 10, já tocava bandolim, piano, violão e violino. Precocemente, já fazia pequenas viagens por Minas Gerais e Rio de Janeiro para se apresentar em pequenos conjuntos.
Aos 11, começou a estudar no Conservatório Santa Cecília, em Petrópolis, onde o talento do garoto já era reconhecido: recebeu medalha de ouro dois anos depois como prêmio de estímulo. Aos 16, já trabalhava como professor de violino dessa instituição.
Em 1932, começou a estudar no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro, após se aperfeiçoar com Paulina D´Ambrosio.
Seis anos depois, escreveu alguns arranjos que foram gravados na Odeon e travou contato com as ideias de Mário de Andrade, por meio do livro Ensaio Sobre a Música Brasileira, que causaram profunda influência em sua estética composicional. Por essa época, estudou matérias teóricas com Newton Pádua e iniciou oficialmente sua fase composicional em 1942.
Em 1943 compôs sua primeira obra para violão, o choro Sátira.
Entre 1944 e 1949, inaugurou a sua fase dodecafônica, estudando com H.J. Koellreutter e renegando todas as obras realizadas antes de 1945. Durante esse período compôs a primeira obra-prima para violão, a Suíte para Violão, de 1946, na qual busca uma aproximação entre a música popular e a serial. Sua Sinfonia n.1 foi transmitida pela BBC de Londres e, em 1947, recusou convite de Aaron Copland para morar no exterior.
Em 1950 iniciou fase nacionalista e viaja ao Recife, onde residiu por três anos, visando coletar material folclórico para suas composições. Ainda neste ano compôs a trilha musical de um dos filmes clássicos dos Estúdios Vera Cruz, Terra é Sempre Terra.
Em 1953 passou a morar em São Paulo, onde também faz coleta folclórica e participa de congressos populares, escrevendo também sobre essas investigações artísticas. Um dos resultados é o livro Maracatus do Recife, publicado pela Editora Ricordi, de São Paulo. Ainda na década de 1950 várias de suas músicas foram gravadas e recebeu prêmios como o Roquette Pinto, em 1956.
Em 1961, volta ao Rio de Janeiro após o término do contrato com a Rádio Nacional de São Paulo. Funda então, em 1968, a Escola Brasileira de Música, Popular do Museu da Imagem e do Som.
Em 1969 compôs Sonata, a primeira do gênero na história do instrumento no Brasil. Com três movimentos, é uma das grandes obras-primas do repertório nacional, infelizmente ainda pouco tocada e gravada. Entre esse ano e o seguinte cria também os 5 Prelúdios, sua obra mais interpretada pelos violonistas.
Em 1971, integrou a Academia Brasileira de Música, na qual ocupou cadeira que pertenceu a seu professor, Newton Pádua.
Entre 1979 e 1980, criou suas 10 Lúdicas para violão.
Em 1981, compôs para violão a série de Breves. Dois anos depois, escreveu o Caderno de Mariza. Por fim, em 1984, criou sua última obra para o instrumento: Peixinhos da Guiné.
Até o final da vida, quando morreu em 26 de novembro de 1993, Guerra Peixe continuou a receber diversos prêmios e a ministrar aulas como convidado em escolas e festivais. Entre seus principais alunos podem ser citados Jorge Antunes, José Maria Neves, Guilherme Bauer, Ernâni Aguiar, Capiba e Sivuca.
Suas obras foram gravadas por violonistas como Marcus Llerena, Celso Machado, Clayton Vetromilla e Sebastião Tapajós. Violonistas como Flávio Apro, Paulo Pedrassoli e Edelton Gloeden já mantiveram peças do compositor em seus repertórios.
Obras para violão:
- Sátira (1943)
- Suite (1946)
- Ponteado (1966)
- Sonata (1969)
- 5 Prelúdios (1969/1970)
- 10 Lúdicas (1979/1980)
- Breves (1981)
- Caderno de Mariza (1983)
- Peixinhos da Guiné (1984)
Bibliografia:
- VETROMILLA, Clayton Daunis. Introdução à obra para violão solo de Guerra-Peixe. Dissertação de Mestrado em Música, UFRJ, 2002.
-CORRADI JUNIOR, Cláudio José. César Guerra-Peixe: Suas obras para violão. Dissertação de Mestrado. USP, 2006, 255 pág.
Discografia Selecionada
- BLANCO, Waltel. Recital. Rio de Janeiro: CBS, 1965. (LP)
- LLERENA, Marcus. Noturno Brasileiro: violão e orquestra de câmara. Rio de Janeiro: Citadela Classics. 1990 (CD)
- MACHADO, Celso. Brasil, Violão. São Paulo: Discos Marcus Pereira, 1984. (CD)
- MONTEIRO, Fabio Shiro. Recital Brasileiro. 2000. (CD)
- REIS, Dilermando. Dilermando Reis - Grand Prix. São Paulo: Continental. 1969. (LP)
- TAPAJÓS, Sebastião. Brasil - El Arte de la Guitarra. Buenos Aires: Estúdios Ion S.A., 1971. (CD, 2000)