por GILSON ANTUNES
Francisco Mignone é autor de algumas das melhores obras clássicas para violão no Brasil, especialmente dois grandes ciclos no mesmo ano, 1970 (12 Valsas para Violão e 12 Estudos para Violão) e o Concerto para Violão e Orquestra. Essas obras viraram tema de teses e dissertações de pós-graduação em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram gravadas no México por Francisco Gil e no Brasil, pelo Duo Assad, Flávio Apro, André Simão, Flávio Barbeitas e Marcelo Fernandes, fazendo parte também do repertório de grandes violonistas como Duo Abreu, Edelton Gloeden e Fabio Zanon.
Filho de imigrantes italianos, começou a estudar música com o pai, o flautista Alferio Mignone, ingressando em seguida no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde teve aulas com Luigi Chiaffarelli e Agostino Cantú, tendo como um de seus amigos Mário de Andrade. Adepto não apenas da música clássica, escreveu várias músicas populares, sob o pseudônimo de Chico Bororó. Aos 15 anos de idade foi premiado num concurso interno do conservatório, diplomando-se em 1917 em flauta, piano e composição. No ano seguinte, estreou no Rio de Janeiro como solista do Concerto para Piano e Orquestra, de Grieg.
Após ganhar um bolsa de estudos para estudar em Milão, na Itália, compôs a primeira ópera, O Contratador de Diamantes. Entre 1927 e 1928 viveu na Espanha, continuando a carreira de compositor com obras como Maxixe.
A amizade com o principal intelectual paulista, Mário de Andrade, resultou na mudança de concepção artística e na colaboração em projetos musicais como Festa nas Igrejas e Maracatu do Chico Rei.
Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro. Lecionou no Instituto Nacional de Música e, 15 anos depois, assumiu a direção do Teatro Municipal.
Em 1950 compôs a trilha sonora para Caiçara, de Alberto Cavalcanti, clássico do cinema brasileiro. Na década seguinte, começou a compor obras atonais, voltando a compor em estilo nacionalista na década de 1970, incluindo suas principais obras para violão.
Foi membro da Academia Brasileira de Música e fundador do Conservatório Brasileiro de Música.
Em 1970 foi apresentado ao violonista Carlos Barbosa Lima, pelo professor do mesmo, Isaías Sávio, e assim nasceu o interesse do compositor pelo violão. Até então, havia composto apenas Modinha, em 1956, obra dedicada à violonista argentina Monina Távora.
A primeira grande série de peças para violão, os 12 Estudos, foi composta em 1970, sendo finalizada no dia 15 de setembro. A série foi dedicada a Carlos Barbosa Lima, que a gravou em vinil, em 1977, ficando esquecida durante vários anos até que o violonista paulista Fábio Zanon começou a tocá-la integralmente em recitais no Rio de Janeiro e São Paulo. Em seguida, Flávio Apro gravou em CD esse ciclo que então fazia parte do repertório de vários violonistas brasileiros.
A segunda grande série do compositor para violão, 12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudo, dedicada a Isaías Sávio, ainda não teve um revival, apesar da dissertação de mestrado defendida por Flávio Barbeitas, em 1996, e da tese de doutorado defendida por Edelton Gloeden, em 2003, tendo este violonista feito a primeira audição integral do ciclo em São Paulo.
O Concerto para Violão e Orquestra, também dedicado a Barbosa Lima, já foi tocado por Fábio Zanon e Nícolas de Souza Barros, entre outros violonistas, e foi tema da tese de doutorado de Maurício Orosco, que analisa as opções de mudanças na partitura propostas pelo violonista Sérgio Abreu.
Além desse dois grandes ciclos e do concerto, Mignone compôs outras pequenas obras para violão solo e música de câmara.
Link: http://www.franciscomignone.com.br/
Obras para violão solo e música de câmara com violão:
-Modinha (1954)
-12 Estudos (1970)
-12 Valsas Brasileiras em Forma de Estudos (1970)
-Brazilian Song (1970)
-Valsa-Choro nº 1 (transcrição do autor) (1970)
-Valsa-Choro nº 3 (transcrição do autor) (1970)
-Valsa-Choro nº 5 (transcrição do autor) (1970)
-Lundu do Imperador (1973)
-Prelúdio e Fuga (para dois violões) (1974)
-Canção Sertaneja (para dois violões) (1974)
-Canção da Garoa (transcrição do autor para dois violões) (1974)
-4 Valsinhas (transcrição do autor para dois violões) (1974)
-Lenda Sertaneja nº 4 (transcrição do autor para dois violões) (1974)
-Concerto para Violão e Orquestra (1976)
-Valsa de Esquina (1976)
-Variações sobre o tema Luar do Sertão (1976)
-Choro (para voz e violão) (1976)
-Dialogando (para voz e violão) (1976)
-O Impossível Carinho (para voz e violão) (1976)
-Pardonnez Moi (transcrição do autor para voz e violão) (1976)
-Vouz Reverrai-je un Jour (transcrição do autor para voz e violão) (1976)
Discografia:
-Barbosa Lima Interpreta 12 Estudos para Violão de Francisco Mignone (1978, Philips)
-Flávio Apro: Flavio Apro Interpreta Mignone (Independente, 2005)
-André Simão (participação): Furnas Geração Musical (Independente, 2005)
-Marcelo Fernandes: Música Latino Americana para Violão (Independente, 2008)
-Francisco Gil: Impressiones de América (Tasto, 2009)
-Duo Reis Barbeitas: Duo Reis Barbeitas (Minas de Som, s/d)
Bibliografia específica:
-APRO, Flávio. Os Fundamentos da Interpretação Musical: aplicabilidade nos 12 estudos para violão de Francisco Mignone. Dissertação de Mestrado em Música (UNESP, São Paulo, 2004).
-BARBEITAS, Flávio Terrigno. Circularidade Cultural e Nacionalismo nas 12 Valsas para Violão de Francisco Mignone. Dissertação de mestrado (UFRJ, Rio de Janeiro, 1996).
DINIZ SOARES, Albergio Claudino. Orientadores técnicos nos estudos IV e VIII de Francisco Mignone. Dissertação de Mestrado (UFBA, Bahia, 1998).
-GLOEDEN, Edelton. As 12 Valsas brasileiras em forma de estudos para violão de Francisco Mignone: um ciclo revisitado. Tese de doutorado (USP, São Paulo, 2002).
-OROSCO, Maurício Tadeu dos Santos. Concerto para violão e orquestra, de Francisco Mignone: edição crítica a partir da versão de Sérgio Abreu. Tese de Doutorado em Música (USP, São Paulo, 2013).