Por Gilson Antunes
Um dos violonistas brasileiros mais importantes do século 20. Seus discos são fundamentais para a história do instrumento, pois sempre apresentaram repertório diferenciado de qualquer outro violonista. Foi o primeiro, por exemplo, a resgatar obras de compositores como Garoto e Armando Neves, seja gravando discos inteiramente dedicados a eles ou escrevendo peças desses autores em partitura.
Geraldo Ribeiro é também importante por ter desenvolvido um repertório clássico para a viola brasileira, interpretando peças e transcrições como as de Theodoro Nogueira, além de ter divulgado um repertório pouco conhecido do repertório clássico mundial.
Filho dos lavradores Onofre Ribeiro da Silva e Mariá Lopes da Silva, Geraldo Ribeiro da Silva nasceu em Mundo Novo, no sertão da Bahia, próximo à parte norte da Chapada Diamantina. Garoto prodígio, iniciou-se na música de maneira autodidata, através de métodos de viola caipira. O pai havia conseguido uma viola e outros instrumentos como gaita, além de uma vitrola com 45 discos, entre eles um de Mozart Bicalho. A partir daí o interesse do menino pelo violão se consolidou.
Mudou-se ainda muito jovem para Assis, no interior de São Paulo, onde começou a estudar teoria, solfejo e outras atividades com o maestro de banda Augusto Matias, por volta de 1952. Três anos depois, seguiu para a capital paulista, quando teve aulas com um dos mais requisitados professores de violão da capital: Oscar Magalhães Guerra.
Estudou também matérias teóricas, harmonia e composição com um dos grandes compositores brasileiros: Ascendino Theodoro Nogueira, um aluno de Camargo Guarnieri que ganhava destaque por suas músicas instrumentais, camerísticas e orquestrais.
Nazareth e Barrios
Em 1959 estreia em disco com Geraldo Ribeiro Interpreta Nazareth e Barrios, pela RCA Victor, hoje considerado o melhor disco de violão clássico lançado no Brasil até aquela data. Gravado 15 anos após a morte do compositor paraguaio, este LP marca definitivamente Geraldo Ribeiro no rol dos grandes violonistas brasileiros de todos os tempos. Se ele não tivesse produzido mais nenhum outro fonograma, ainda assim já entraria para a história do violão mundial.
A interpretação de La Catedral, que fecha o disco, é ainda hoje considerada referencial em todo o mundo. Além disso, as transcrições que Geraldo fez para Agustin Barrios e Ernesto Nazareth, permanecem atualmente como modelo a outros arranjos. Nas sessões de estúdio, ele utiliza violão Di Giorgio e cordas La Bella.
Noite de Gala
Em 1961, Geraldo Ribeiro lotou o Teatro Municipal de São Paulo, no recital Violão em Noite de Gala, que foi gravado e lançado em disco duplo homônimo, com repertório formado por transcrições de obras de grandes compositores, como o italiano Paganini (Moto Perpétuo), peças originais para violão (Estudo de Concerto, de Agustin Barrios) e temas autorais (Acauã). O célebre violonista Dilermando Reis costumava viajar do Rio de Janeiro até São Paulo apenas para ouvir Geraldo Ribeiro tocar em recitais.
Por volta dessa época, o violonista baiano já possuía repertório de mais de 200 músicas que tocava de memória. Algumas delas podem ser ouvidas em gravações particulares que realizou para o colecionador Ronoel Simões, mas que nunca lançadas comercialmente em disco, apesar de possuírem qualidade técnico-musical altamente profissionais.
Theodoro Nogueira
Em 1966, Geraldo lançou outro LP histórico: Seis Brasilianas de Theodoro Nogueira. Esse disco inclui ainda a transcrição do próprio compositor para o Canto Caipira nº 5 e Ponteio, ambas originais para piano. Estão entre as primeiras gravações de obras para violão de Nogueira, que infelizmente estão esquecidas atualmente. Segundo o compositor, o disco foi gravado em poucas horas e praticamente não há cortes de edição. Cerca de 200 exemplares desse disco foram presenteados a leitores da histórica revista Violão e Mestres daquele ano. Seriam contemplados apenas aqueles que respondessem a uma pergunta básica sobre a vida do músico Tárrega.
Entre os interessados em receber o disco estavam violonistas do nível de Alírio Diaz, Miguel Angel Girollet, José Duarte Costa (de Portugal), Yasumasa Obara (Japão) e o uruguaio Abel Carlevaro, além de muitos dos principais violonistas brasileiros daquela época (Milton Nunes, Nelson Anderáos, Julieta Corrêa Antunes, Mozart Bicalho, Luperce Miranda, Paulinho Nogueira, José de Oliveira Queiroz e Jodacil Damaceno). Isso demonstra o respeito que os músicos tinham pelo trabalho de Geraldo Ribeiro, que contava então com apenas 25 anos de idade.
Armandinho
Em 1970, mais uma glória para a discografia brasileira do violão: Geraldo Ribeiro lança um LP totalmente dedicado às obras do então esquecido violonista Armando Neves, que conheceu por meio de Romeu Di Giorgio em 1959. Geraldo chegou a morar com Armandinho entre 1959 e 1960. Além de escrever partituras desse compositor, que não sabia ler por música, registrou belíssimas interpretações de obras que aos poucos estão ganhando o mundo. As peças de Armandinho foram gravadas recentemente por violonistas do calibre de David Russell e Paola Pichersky, que, inclusive, escreveu um trabalho de pós-graduação sobre o compositor.
Bach em viola caipira
No ano seguinte, Geraldo Ribeiro fez algo quase inacreditável. Gravou dois discos referenciais no mesmo dia. O primeiro continha novamente obras de seu ex-professor Theodoro Nogueira: de um lado os 12 Improvisos – uma das obras mais interessantes do repertório brasileiro, que ainda não recebeu um revival – e, do outro lado, nada menos que o Concerto para Violão e Orquestra.
Em seguida, o violonista largou o violão e gravou o disco Bach na Viola Brasileira, com transcrições de obras como a Chaconna para viola, realizadas por Theodoro Nogueira. Com isso, Geraldo Ribeiro foi um dos que tentaram inserir esse instrumento nas salas da música de concerto, o que parece ainda não ter ocorrido. Outro violonista que também tentou foi o paulista Carlos Barbosa Lima, que igualmente gravou obras de Theodoro Nogueira na viola brasileira. O instrumento utilizado no disco foi fabricado por Rômulo Di Giorgio na Fábrica Giannini, baseado num modelo folclórico brasileiro.
Garoto
Em 1980 gravou, em apenas dois dias, mais um LP histórico: Garoto, no qual novamente ajudou a divulgar e restabelecer o nome desse violonista e compositor, que por aquela época ainda estava esquecido e até então nunca havia merecido um disco dedicado. No mesmo período, Geraldo também foi o primeiro a escrever uma série de songbooks com partituras de Garoto.
Hoje o nome de Garoto está presente no repertório dos grandes violonistas no Brasil e no exterior. Mas foi Geraldo Ribeiro um dos primeiros a perceber a genialidade do compositor paulista, que é considerado o pai do violão moderno. O disco Garoto é o único de Geraldo a ser lançado também em CD.
Pioneiro no ensino superior
Como professor, a trajetória de Geraldo Ribeiro também é singular, pois foi o primeiro brasileiro a ensinar violão em curso superior, em 1966, quando se mudou para Brasília, onde recebeu o título de Notório Saber, e integrou o corpo docente da Universidade Nacional de Brasília (UNB), até 1968, quando teve de se afastar, junto com outros professores, devido ao aumento da repressão da ditadura militar. Em seguida, ensinou violão na Escola de Música de Brasília até 1975. Depois de passar um breve período nos Estados Unidos, Geraldo retornou ao Brasil e foi professor do Conservatório de Tatuí, no interior de São Paulo, de 1983 a 2008, onde se aposentou.
Em 2009, a Universidade de São Paulo (Usp), com a realização do Festival Leo Brouwer, homenageou Geraldo Ribeiro, que fez uma bela apresentação para um auditório lotado de violonistas e admiradores, entre eles o próprio homenageado, o cubano Leo Brouwer. O encontro de ambos, numa palestra sobre a vida e a obra de Geraldo Ribeiro marcou época no violão brasileiro.
Atualmente Geraldo Ribeiro segue carreira como concertista e é compositor de mais de 280 obras que incluem peças solo, música de câmara com violão, e até concertos para violão e orquestra. Algumas dessas obras foram publicadas pelas editoras Ricordi e Di Giorgio, mas a maioria permanece em manuscrito. O estilo composicional é uma mescla de música romântica tardia, música rural e contraponto modal nacionalista.
Link: www.geraldoribeiro.com
Discografia:
Geraldo Ribeiro Interpreta Nazareth e Barrios (1959)
Violão em Noite de Gala (1961)
6 Brasilianas de Theodoro Nogueira (1966)
Armando Neves (1970)
Concerto para violão e orquestra e 12 improvisos de Theodoro Nogueira (1971)
Bach na Viola Brasileira (1971)
Garoto (1980)
Musicografia:
VIOLÃO SOLO
A “Guitarra” - prelúdio n. 1
A “Guitarra” – prelúdio n. 2
A “Guitarra” Ritmada - prelúdio n. 3
A “Guitarra” - prelúdio n. 4
A “Guitarra” - prelúdio nativo n. 5
A Canoa Virou
A Lembrança
A Tristonha Menina
Arrebol do Nordeste
As Alegres Lavandeiras
As Borboletas Coloridas – valsa
Bandinha da Praça – marcha humorística
Branca Flor – valsa
Brasileira n. 1
Brinquedo Sonoro
Caboclinha
Canção
Canção Chorosa
Canção para uma Pessoa Viva
Canhoto – choro Cantiga de Ninar
Cantiga de Ninar para Alguém
Cantiga n. 3
Cantiga n. 4
Canto Meditativo n. 1
Canto Meditativo n. 2
Canto Popular - Dama Carioca
Canto Popular n. 5
Canto Sereno
Cateretê do Mato Grosso
Chegança
Chorinho
Chorinho dos Dois Irmãos
Chorinho Esquecido
Contemporaneidade – postlúdio
Conversando – samba estilizado
Cumprimentando – choro
Divertida no. 1
Estudos Virtuosísticos
Estudo n. 1 - “Os Incas” (em trêmulo não tradicional em lá bemol maior)
Estudo n. 2 – Para mão esquerda só (em fá sustenido maior)
Estudo n. 3 – Aberturas (em lá menor)
Estudo n. 4 – Em ligados com dedos presos (em dó menor)
Estudo n. 5 – Paganini (de velocidade em lá menor)
Estudo n. 6 – Bach (em arpejo de extensão em mi menor)
Estudo n. 7 – Aguado (em trinados contínuos)
Estudo n. 8 – Koellreutter (para vibrato)
Estudo n. 9 – Villa-Lobos (em fá menor em arpejo contínuo)
Estudo n. 10 – Impressões (em mi menor em ligados)
Estudo n. 11 – Flores Agrestes (em trêmulo em sol maior)
Estudo n. 12 – Essência do Jazz
Estudo n. 13 – Zanon (em lá maior)
Estudo n. 14 – Sinistras Badaladas de um Velho Sino
Estudo n. 15 – Força Motriz (em si maior para velocidade)
Estudo n. 16 – Horizontal (para mãos cruzadas em fá menor)
Estudo n. 17 – Clássico (em ré menor)
Estudo n. 18 – As Estrelas (harmônicos naturais)
Embolada
Evocação Flamenca n. 1
Evocação Flamenca n. 2
Fantasia sobre Temas Folclóricos Gaúchos
I. Prenda Minha
II. Balaio
III. Quero Mana
Graciosidade
I Canção de Dezembro
I Canto Popular
Igarapês de Manaus
II Canção de Dezembro
II Canto Popular
Imitações (mãos cruzadas)
Impressões Populares (mãos cruzadas)
Improvisação sobre tema de A. N.
Inflexão Melódica
Instropecção
Jesus
Lourinha - canção
Mãe e Filho – modinha (do folclore paulista)
Matias – choro
Maxixe – solo
Meiguice Morena
Menino Sonhador
Meu Violão
Mistério – prelúdio
Moderno – choro (para solo)
Momento de Improviso
Moreninha – samba-canção
O Interior e a Seresta
O Menino Repentista
O Sonho de Inã – canto popular
O Teu Cantarolar
O Vento e as Palmeiras – descritivo
Ode a Nazareth
Ode a Pixinguinha
Ode a Radamés
Ode a Segóvia
Odilia – valsa-choro
Pássaro Cantor – descritivo
Peixe Vivo
Pensamento Elegíaco – n. 1
Pensamento Elegíaco – n. 2
Perdida – valsa
Pernambuco – choro
Ponteado da Paraíba
Ponteado da Violinha
Ponteadinho Paulista
Ponteio
Prelúdio e Tocata (sobre o Tema Mineiro, Tin Tin)
Prelúdio sobre Motivo de Tarrega
Quatro Peças para Violão
Tarrega Preludio
Canto Seresteiro
Cantiga
Improviso
Rabuny – choro
Reminiscências (suíte popular n. 6)
Terna Lembrança – modinha
Canhoto – choro
Branca Flor – valsa
Maxixe
Romântico Complementar
Românticos
Romântico n. 1 – em mi maior
Romântico n. 2 – em sol sustenido menor
Romântico n. 3 – em mi maior
Romântico n. 4 – em si maior
Romântico n. 5 – em dó maior
Romântico n. 6 – em fá sustenido menor
Romântico n. 7 – em lá maior
Romântico n. 8 – em sol maior
Romântico n. 9 – em fá maior
Romântico n. 10 – em mi maior
Romântico n. 11 – em fá sustenido maior
Romântico n. 12 – em ré maior
Romântico n. 13 – em mi bemol maior
Romântico n. 14 – em sol maior
Romântico n. 15 – em si maior
Romântico n. 16 – em fá maior
Romântico n. 17 – em fá maior
Romântico n. 18 – à memória de Aníbal Augusto Sardinha (Garoto) – em mi bemol maior
Romântico n. 19
Romântico n. 20 – em sol maior
Romântico n. 21
Romântico n. 22 – em ré maior
Romântico n. 23
Romântico n. 24 – em sol maior
Romântico n. 25 – O Repouso e A Alegria (em mi maior)
Saltadinho
Samba Lelê
São João Dararão
Serenata para Dilermando
Seresta n. 1
Seresta n. 2 – Serenata Brasília
Seresta n. 3
Seresta n. 4
Serrote
Sete Cantigas de Roda
I. A Roseira
II. Carneirinho Carneirão
III. Sapo Jururu
IV. Acordei de Madrugada
V. Bam-ba-la-lão
VI. Tutu Marambá
VII. Giroflê
Soldadinho Travesso
Sonata Romântica – à Memória de Nicoló Paganini
Sonatina do Sudeste
Sossego n. 1
Sossego n. 2
Sozinha – valsa
Suíte Popular n. 1
I. Choro
II. Divertida
III. Choro
Suíte Popular n. 2
I. Moderado - seresta
II. Ritmado – samba rural
III. Saudoso – valsa
IV. Vivo – londu
Suíte Popular n. 3
I. Ponteado
II. Toada
III. Dança
Suíte Popular n. 4 – à memória de Dilermando Reis
I. Choro
II. Toada
III. Choro
Suíte Romântica n.5 - Influências
Suspendo Nossa Bandeira
Tempo de Maracatu
Terna Lembrança – modinha solo
Toada
Três Peças para Violão
Cantilena
Toada
Canção
Último Pensamento de bairros
Vagaroso à Maneira de Viola
Variações - canção e final
Vicentinho, Sua Sanfona e o Rojão n. 2
Vicentinho, Sua Sanfona e o Rojão n. 1
Violinha de Brinquedo – toada
Vivo
Zé Batista “O Carioca” - maxixe
Zezinha – polca
QUARTETO DE VIOLÕES
Brasileira n. 2
Canto Popular - Dama Carioca
Conversa de Brasileiro
II Canção de Dezembro
Meiguice Morena
Serenata para Dilermando
CANTO E VIOLÃO
Bicicleta (letra de Cassiano Nunes)
Canção do Amor Tranquilo (letra de Cassiano Nunes)
Encontro (letra de Geraldo Ribeiro)
Estrangeiros (letra de Cassiano Nunes)
O Grito (letra de Claver Filho)
O Horizonte (letra de Geraldo Ribeiro)
Praia Deserta (letra de Geraldo Ribeiro)
DUOS DE VIOLÃO
Canção para uma Pessoa Viva
Divagações Chorosas n. 1
Inflexão Modinheira
Ponteadinho da Minha Terra
VIOLÃO E CORO MISTO
Momento Evocativo (letra em português de Carlos Gomes e palavras esparsas em Tupi)
Tardia Recompensa
CANTO E PIANO
O Horizonte
VIOLINO E VIOLÃO
Inflexão Modinheira
Ponteadinho da Minha Terra
VIOLINO E PIANO
Divagações Chorosas n. 1
Inflexão Modinheira
Ponteadinho da Minha Terra
VIOLÃO E PIANO
Divagações Chorosas n. 1
Momento de Improviso
Suíte no. 5 (popular)
TRIO
Trio de Violões
DUO DE VIOLÕES E BANDA
Fantasia para 2 violões e banda e redução, sobre temas de Carlos Gomes
OBRAS DIDÁTICAS
Método de Violão para Iniciantes
Método de Viola Brasileira
56 Exercícios para Técnica Expressiva ao violão, em forma de prelúdios, estudos etc.
VIOLÃO E ORQUESTRA
Concerto Informal com redução
Divagações Chorosas n. 2 – com violão obliguato
Harmonias Brasileiras – concerto com redução
DUO DE VIOLÃO E PIANO
Lembranças do Garoto – Fantasia
VIOLINO E CORDAS
Divagações Chorosas para violino com acompanhamento de cordas
PIANO
Pequenas peças para piano
Tatuiana n. 1
Tatuiana n. 2
Tatuiana n. 3
Tatuiana n. 4
QUINTETOS
Quinteto para violão, viola, clarineta, trompa e fagote