Por GILSON ANTUNES
Um dos violonistas mais importantes da história do violão no Brasil, mesmo tendo nascido no Uruguai e mantido o sotaque espanhol por toda a vida. Sua atividade principal - e a que o coloca entre os grandes do violão na América do Sul – foi a didática. Teve como alunos músicos do nível de Luiz Bonfá, Paulo Porto Alegre, Paulo Bellinati, Marco Pereira e Toquinho. Curiosamente, estes tomaram um caminho mais voltado à música popular. Entre outros grandes violonistas que estudaram com o uruguaio estão Carlos Barbosa Lima, Antonio Rebello, Henrique Pinto, Antonio Guedes e Manoel São Marcos.
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Sávio teve como primeiro professor de violão Luis Alba. Estudou, em seguida, aos 11 anos, com Conrado Koch. A primeira composição que criou foi Caixinha de Música, composto aos 12 anos de idade. Em 1912, assistiu no Teatro Solis de Montevidéu uma apresentação do violonista paraguaio Agustin Barrios, de quem se tornou amigo. Três anos depois já faria a primeira apresentação pública, tocando obras de Sor, Manjon e outros, além de composições próprias.
Turnês
Em 1918 Sávio conhece outro grande violonista daquela época, o espanhol Miguel Llobet, com quem mantém contato durante as turnês que realiza pela América do Sul. Três anos depois finalmente conhece Andrés Segovia. A partir desses contatos Sávio molda ideias próprias a respeito de técnica e de interpretação, que posteriormente seriam publicadas em métodos e obras diversas.
Entre 1924 e 1930, Sávio morou na Argentina, sendo - segundo o dicionário de violonistas de Domingo Prat - o primeiro grande violonista uruguaio a empreender turnês, sendo considerado também um dos principais violonistas rio-platenses. São dessa época algumas das melhores obras do compositor, que foram incluídas em coleções como Suite Descritiva e 3 Peças Originais.
No Rio
Em 1931 vem pela primeira vez ao Brasil, onde realiza recitais em Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte. No ano seguinte, dirige-se ao Rio de Janeiro, onde foi impedido de fazer recitais no Instituto Normal de Música. Sávio realiza então uma palestra em que lamenta o “desprezo oficial pelo violão” na instituição e promove um recital no Salão Nicolás, no dia 15 de junho de 1932, quando recebe boas críticas.
Em 1933, Luiz Bonfá inicia estudos com Sávio, que também entra em contato com Pixinguinha. O uruguaio viveria no Rio de Janeiro até 1940, onde teve como principal aluno Antonio Rebello, avô dos irmãos Sérgio e Eduardo Abreu, e que se tornou um didata importante na capital carioca. Sávio e Rebello chegam até a formar em 1938 um dos primeiros duos de violões que se tem notícia no Brasil.
Conservatório Dramático
Em 1941, Isaías Sávio se muda definitivamente para São Paulo, onde, em 1945, envia uma carta oficial para o Conservatório Dramático e Musical solicitando a abertura do curso de violão neste que era considerado um dos principais conservatórios musicais brasileiros. Dois anos depois, após provar que o violão tinha literatura e metodologia suficientes para abranger um curso integral de violão, recebe resposta positiva. Começa então a lecionar na meca da música clássica paulista, tendo como primeiros alunos Julieta Corrêa Antunes e Manoel São Marcos.
Em 1948, fez gravações particulares para Ronoel Simões, registrando músicas de autoria dele, de Tárrega e de Waldemar Henrique. Em seguida, gravou também em duo com Simões.
Gravações
Três anos depois, em 1951, foi um dos fundadores da Associação Cultural de Violão de São Paulo. Dois anos depois fez as últimas gravações particulares em trio (com Ronoel Simões e José Lansac) e em quarteto (com Simões, Lansac e Guilherme Nascimento). Sávio já havia recebido diversos convites para gravar comercialmente, mas sempre recusava. Alegava não ter tempo suficiente para estudar e gravar da maneira que o satisfizesse - por conta de suas aulas, suas composições e revisões de partituras.
Em 1954 realizou último grande recital em Porto Alegre – curiosamente a primeira cidade a ter tocado no Brasil em 1931 – decidindo-se pela carreira didática e composicional.
Em 1960 recebe reconhecimento oficial do governo brasileiro do seu curso de violão no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, abrindo um precedente histórico para o instrumento no Brasil. Seu programa oficial de violão seria então adotado por outros conservatórios musicais espalhados pelo país. Três anos depois, Sávio se naturalizou brasileiro.
Na década de 1960, seu ex-aluno Manoel São Marcos criou o programa televisivo Violão e Mestres, o qual se transformou em programa radiofônico e, posteriormente, em revista – patrocinada pela fábrica de violões Giannini, e com consultoria de Sávio, Ronoel Simões, Alberto Almenda Heinzl e Nelson Cruz -, que hoje faz parte da bibliografia básica dos pesquisadores brasileiros sobre o instrumento na década de 1960. A publicação teve nove edições, entre 1964 e 1968.
Em 1969, o Liceu Palestrina lhe dedicou a primeira edição do que é hoje considerado o maior festival de violão clássico da história do Brasil: os Seminários de Violão de Porto Alegre, que ocorreram até a década de 1980. A segunda edição do festival teve direção artística do próprio Sávio.
O violonista e compositor continuou lecionando não apenas no Conservatório Dramático, mas em outras localidades e festivais. Também escreveu artigos para a Guitar Review dos Estados Unidos e La Guitarra da Argentina, além da já citada Violão e Mestres.
Isaías Sávio morreu de câncer na capital paulista em 12 de janeiro de 1977. Deixou um legado importantíssimo não apenas para o violão latino americano, mas para o violão mundial.
Compositores
Vários compositores lhe dedicaram músicas. Entre eles Francisco Mignone, Theodoro Nogueira, Guido Santórsola e Osvaldo Lacerda. Suas obras foram gravadas por violonistas como Sharon Isbin, Carlos Barbosa Lima, Yone Ferreira e Maurício Orosco (que também escreveu uma pioneira e importante dissertação de mestrado sobre o violonista e compositor).
Seus métodos e obras continuam a ser adotados em escolas de música e conservatórios por todo o Brasil, atualmente de forma menos intensa, talvez pela grande aceitação dos métodos de seu discípulo Henrique Pinto, que, inclusive, publicava pela Editora Ricordi, a mesma de Sávio.
Obras selecionadas:
Cenas Brasileiras (Primeira e Segunda Séries)
4 Prelúdios Pitorescos
4 Recreações
Coleção de Peças Progressivas
6 Peças de Meia Dificuldade
3 Estudos
25 Estudos Melódicos
4 Peças Típicas do Rio da Prata
Nesta Rua (Tema Variado)
Suite Descritiva
Bibliografia:
-OROSCO, Maurício Tadeu dos Santos. O Compositor Isaías Sávio e suas obras para violão. Dissertação de Mestrado. USP, 273 págs, 2001.
-SUMMERFIELD, Maurice J. The Classical Guitar, its Evolution, Players and Personalities since 1800. Ashley Mark Publishing Company, Newcastle-upon-Tyne, 1996.
Trabalho de Pós-Graduação:
-RIGHINI, Rafael Roso. A Escola Violonística Prof. M. São Marcos. Dissertação/ ECA-USP. São Paulo, 1991. 181 p.
Revista:
- VIOLÃO E MESTRES. São Paulo, Violões Giannini S.A., 1964-68.