Por Gilson Antunes
O duo formado por Sérgio e Odair Assad é considerado pela crítica e pelo público como dos mais importantes da história (ao lado do Presty-Lagoya e do Duo Abreu) e provavelmente o mais influente dos últimos 30 anos em todo o mundo. Responsáveis por um novo padrão técnico-interpretativo para a maioria dos duos de violões posteriores a eles, os irmãos também são fundamentais para o aumento do repertório nesta formação, graças às peças originais de Sérgio Assad e ao comissionamento de novas obras de compositores do calibre de Astor Piazzolla, Terry Riley, Radamés Gnattali, Marlos Nobre, Edino Krieger e Francisco Mignone.
Entre as composições mais conhecidas de Sérgio Assad para violão solo estão Fantasia Carioca e Aquarelle, que foi peça de confronto no concurso promovido pela Guitar Foundation of America (GFA) em 2002. Vários violonistas, como Alieksey Vianna, Shin-Ichi Fukuda, David Russell e Raphael Aguirre fizeram gravações recentes de músicas de Sérgio Assad. O duo já teve como parceiros musicais nomes como Gidon Kremer, Yo-Yo Ma e Paquito D´Rivera.
Entre os duos influenciados pelos irmãos Assad estão os brasileiros Duo Siqueira-Lima e o Brasil Guitar Duo, os ingleses Eden-Stell e os húngaros Katona Twins, além de inúmeros outros.
Formação musical
Nascidos no município de Mococa, em São Paulo, Sérgio (26/12/1952) e Odair Assad Simão (24/01/1956) iniciaram os estudos musicais com o pai Jorge Assad, no interior de São Paulo. Em 1969, mudaram-se para o Rio de Janeiro para ter aulas durante sete anos com a violonista e alaudista argentina Monina Távora (1921-2011), que já formara os irmãos Sérgio e Eduardo Abreu. Sérgio Assad estudou também composição e regência na Escola Nacional de Música, com Esther Scliar.
Em 1973, os irmãos Assad venceram o concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica Brasileira. Em 1977, gravaram o primeiro LP, Latino América para Duas Guitarras, contendo obras de Francisco Mignone, Castelnuovo-Tedesco, Leo Brouwer e a primeira gravação do Concerto para Dois Violões, Oboé e Orquestra de Cordas, de Radamés Gnattali. No ano seguinte, dividiriam a gravação da obra completa para violão solo de Heitor Villa-Lobos, num LP duplo lançado pela Kuarup. Sérgio participou ainda como solista de LPs com obras de Villa-Lobos (Os Choros de Câmara) e do Concurso de Composição Funarte (Música Nova do Brasil).
Carreira internacional
Em 1979, começaram a carreira internacional ao vencerem o Young Artists Competition, em Bratislava (antiga Tchecoslováquia). Como parte da premiação, participaram do LP duplo do evento, interpretando obras de Pierre Petit, Scarlatti e Villa-Lobos. A partir de 1983 fixaram residência permanente fora do Brasil, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
Em 1985 e 1988, lançaram dois de seus melhores discos, que muito ajudaram na fama e aceitação do duo como destaques do violão: Gnattali, Rodrigo e Piazzolla e, principalmente, Alma Brasileira, este último tido por muitos como o melhor disco já lançado pelos irmãos. Com um repertório inovador para duo de violões, baseado principalmente na música instrumental popular brasileira, como Choro de Mãe (Wagner Tiso), Série de Arco (Hermeto Paschoal), Baião Malandro e Frevo (Egberto Gismonti), o LP tornou-se referência e o cartão de visitas mais apropriado que Sérgio e Odair Assad poderiam dar ao mundo da música.
Por essa época, participaram da última edição do Seminário de Música de Porto Alegre, promovido pelo Liceu Palestrina, ao lado de violonistas como Eduardo Isaac e Roberto Aussel, sendo o destaque do festival. Em 1989, fariam o recital de abertura do projeto Violões: Projeto Memória Brasileira, que foi transmitido pela TV Cultura de São Paulo. Entre outros participantes do projeto – realizado no Teatro Cultura Artística, na região central da capital paulista – estiveram Carlos Barbosa Lima, Rago, Antonio Madureira e Raphael Rabello.
Entre 1991 e 1993 lançaram dois CDs com repertório voltado à música clássica: Sergio & Odair Assad Play Rameau/Scarlatti/Couperin and Bach e Two Concerts for Two Guitars, sob regência de John Neschling. Em 1994, Sérgio compõe a trilha sonora do filme japonês Natsu No Niwa, de Shinji Sômai, que é lançado em CD.
Piazzolla e Grammys
A partir daí o Duo Assad continuou gravando CDs baseados principalmente na música instrumental popular latino americana (Piazzolla, Gnattali e composições próprias de Sérgio Assad), com algumas incursões pela música de concerto, como a transcrição da Sonata n.1 opus 22, de Alberto Ginastera, original para piano, no CD Saga dos Migrantes, de 1996, e o Concerto para Dois Violões e Cordas, de Edino Krieger, lançado em 2000.
Em 2001 os irmãos lançaram o CD Sérgio and Odair Assad play Piazzolla, vencedor do Grammy Latino. Dois anos depois, outro Grammy, desta vez com o disco Obrigado Brazil, do violoncelista Yo-Yo Ma. Em 2007, Sérgio recebe o Grammy de melhor compositor com a música Tahhiyya Li Ossoulina, sendo novamente premiado em 2009, com a música Família, do CD Songs of Joy and Peace, também de Yo Yo Ma.
Em fevereiro de 2011, Odair Assad surpreendeu ao realizar uma turnê solo pela América do Norte. No ano seguinte, a Universidade do Arizona deu o diploma honorário Doutor em Música a Sérgio Assad.
Sérgio Assad vive nos Estados Unidos, dando aulas no San Francisco Conservatory e Odair Assad mora em Bruxelas, onde é professor na Ecole Supérieure des Arts. Recentemente, Leo Brouwer dedicou a Odair Assad sua segunda sonata para violão solo, Sonata del Caminante, uma de suas principais obras. Sérgio, por sua vez, continua como um dos mais requisitados compositores da linha crossover, sendo um dos principais representantes dessa tendência composicional no violão. Em 2015 fazem turnê de 50 anos de carreira em diversas capitais brasileiras e do lançamento do mais novo CD O Clássico Violão Popular Brasileiro.
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Discografia
Latino América para duas guitarras (com Orquestra Armorial) (Continental, 1977)
Heitor Villa-Lobos: Obra Completa para Violão (Kuarup, 1978)
International Rostrum of Young Performers (Opus, 1979)
Os Choros de Câmara (Kuarup, 1980)
Música Nova do Brasil (Funarte, 1981) (Sérgio Assad solo)
The Debut Concert: Live in Brussels (GHA, 1983)
Marlos Nobre / Yanomami (EMI-Odeon, 1983)
Concert at the “Y” (1983)
Gnattali, Rodrigo e Piazzolla (GHA, 1984)
Latin American Music for Two Guitars (Elektra/Asylum/Nonesuch, 1985)
Alma Brasileira (Elektra/Asylum/Nonesuch, 1988)
Violões: Projeto Memória Brasileira (Crescente, 1990)
Two Concerts for Two Guitars (GHA, 1991)
Sérgio & Odair Assad plays Rameau, Scarlatti, Couperin and Bach (Elektra/ Asylum/Nonesuch, 1993)
Natsu no Niwa Suite (GHA, 1994)
White Moon: Songs to Morpheus (Elektra/Asylum/Nonesuch, 1995)
Lo Que Vendrá (GHA, 1995)
Saga dos Migrantes (Elektra/Asylum/Nonesuch, 1996)
El Tango (Elektra/Asylum/Nonesuch 1997)
Soul of the Tango (Sony, 1997)
Fuga y Misterio (GHA, 1998)
Velho Retrato (EGEA, 1999)
Nadja Salerno Sonnenberg, Sérgio and Odair Assad (Elektra/Asylum/Nonesuch, 2000)
Three Double Concertos (GHA, 2000)
Sérgio and Odair Assad plays Piazzolla (Elektra/ Asylum/Nonesuch, 2001)
Concierto de Volos – Concierto de Aranjuez – Serenade opus 50 (GHA, 2002)
Obrigado, Brazil (Sony, 2003)
Obrigado, Brazil Live in Concert (Sony, 2004)
Milonga Per Ter: Live in Brussels (GHA, 2004)
Sérgio and Odair Assad and their Family: A Brazilian Songbook (GHA, 2005)
Jardim Abandonado (Nonesuch, 2007)
Yo-Yo Ma and Friends: Songs of Joy and Peace (Sony, 2008)
Originis (NSS Music, 2009)
El Caminante (Odair Assad solo) (GHA, 2010)
Viva Brazil – Live (Sony Music Entertainment, 2012)
Sérgio and Odair Assad and Paquito D´Rivera: Dances from the New World (GHA, 2013)
O Clássico Violão Popular Brasileiro (2015)